domingo, 13 de setembro de 2009

Comentários sobre o Livro Mercury and Me de Jim Hutton

Freddie Mercury

Realmente, o livro escrito por Jim Hutton, um dos namorados de Freddie, que, de fato, presenciou os momentos finais dele, pode ser considerado um verdadeiro divisor de águas.
Assim como afirmam Liane e Henrique Seligman, colecionadores dos produtos do Queen e que escrevem o prefácio do livro, a leitura, por vezes, pode não ser “digerível” para certas pessoas, por fins preconceituosos. Contudo, fã que é fã, pouco vai ligar para certos trechos picantes ou descrições mirabolantes de excessos cometidos por Freddie, o que vale é o acréscimo do conhecimento frente aos fatos e coisas ditas sobre ele; não obstante, o fã que está descobrindo, atualmente, o cantor, em função da destacável volta do Queen, com Brian May e Roger Taylor, junto com a excelente performance de Paul Rodgers, pode acabar por tapar a boca, assim como as crianças fazem quando vêem algo espantoso.
E o que pode espantar algum novo iniciado em Freddie? Se formos analisar a questão, não haverá muito que dizer, pois, assim como todo livro biográfico, a sua função é contar o que de mais importante aconteceu durante um período da vida ou a vida toda desta ou daquela pessoa. Desta forma, os exageros nas festas de aniversário realizadas, as compras intermináveis em centenas de lojas pelo mundo, as muitas confraternizações feitas pelo anfitrião, alguns dissabores por ser traído por este ou aquele amigo ou por ter conhecido certas pessoas que, ao invés de aproveitar a companhia ilustre, preferiam agir como bobos que não param de gritar na frente do seu astro querido; tudo isso, pode ser considerado “café pequeno”, tendo em vista os detalhes do sofrimento.
Ao delinear, ou tentar delinear, uma biografia convencível de Freddie, Jim Hutton procurou cometer o mínimo de erros possível, ou seja, com o seu jeito de escrever, as muitas passagens descritas no livro, são de fácil aceitação, simplesmente por terem sido escritas de forma simples e direta. Sendo assim, as partes picantes e os “foda-se” da vida, são nus e crus por serem ditos claramente e por não quererem esconder nada de ninguém. Logicamente, se o autor fosse cheio de gracinhas textuais ou mágicas verbais, o simples seria intragável.
Ademais, a relevância do texto sobressai pelos íntimos detalhes. Pois, em muitos trechos, Jim conta, sem muita preocupação de agredir alguém ou farpas mesmo, coisas vividas por eles, como as relações na cama. Para um puritano, seria motivo de queimar o livro em praça pública, apesar de que hoje as pessoas já não têm mais o senso do que é certo ou errado nas relações amorosas e sociais. Por este motivo, a biografia se salva e deixa para trás os invejosos.
O sofrimento, dito acima, detalhado como em uma colcha de retalhos interminável, também sobressai. Porque, isto reflete a verdadeira sensação do autor em relação à pessoal a qual amava, frente aos seus muitos problemas, em seu momento terminal. Que, aliás, é descrito sem muita pompa, porque, com poucas palavras, sucintas, Jim descreve o exato momento ao qual Freddie deixa de viver realmente e passa a viver na história. Com certeza, este é o momento mais triste do livro para qualquer fã que se preze.
No entanto, além da eminente tristeza final, um outro ponto pode ser considerado importante: a ilusão perdida de um sonho que apenas queria construir uma outra realidade. Calma, eu vou explicar. Menciono poeticamente isto, para dividir o sofrimento relatado por Jim em duas formas: a primeira, a perda do amor; a segunda: o não cumprimento dos compromissos deixados por escrito e falado por Freddie.
O segundo sofrimento trata-se do seguinte: muitos fãs hão de conhecer uma mulher chamada Mary Austin, ou simplesmente Mary, pois ela foi uma das namoradas de Freddie, a mais famosa, entre os fãs, e a única que também vivenciou os momentos finais dele. Ela também foi sua primeira namorada, que fora várias vezes traída, mas, talvez pela química, ela nunca o deixou e, aliás, foi muito compreensiva quando ele lhe disse que iria assumir sua condição de homossexual. Contudo, seguindo o relato do livro, a união, quase que mística, dele com Jim, foi uma das poucas coisas que ela, provavelmente, não aceitou até o fim de tudo.
Sempre quando Jim relata a presença dela no livro, é possível perceber certo ar de repulsa recíproca, que dissimula bastante, talvez para não haver agressão verbal. A “amizade forçada”, enquanto Freddie era vivo, mantinha-se porque ele sabia como conduzir ambos a um ambiente sociável. Muitas são as vezes que Jim diz que Freddie não gostava de escândalos, e esse seria um escândalo suficientemente grande para a imprensa inglesa explorar, por isso, mais que rapidamente, Freddie jogava, com classe, os “panos quentes” na situação.
Entretanto, daí dá-se o segundo sofrimento, após a morte de Freddie, Mary torna-se herdeira da maior parte da fortuna. Nem por isso, ele se esquece de seu último grande amor. Destina certa quantia a ele e seus empregados, no Garden Lodge, e pede a Mary que tome as rédeas da situação para realizar tal procedimento.
Entrementes, para o desenrolar do negócio burocrático, no teatro dos problemas, Jim Beach, empresário do Queen, faz uma rápida participação em dois atos; o primeiro ato, como homem que perde um amigo e se solidariza com a perda alheia; o segundo ato, como homem de negócios, simplesmente, que manda e desmanda e diz e desdiz. No caso do desdizer, de acordo com Hutton, somente uma parte daquilo que fora dito por Freddie, gancho ao qual Beach se apóia para argumentar que Mary não deveria fazer tudo que fora dito, porque, o que foi dito não foi escrito, foi cumprido.
Sendo assim, um outro ponto forte de desgosto, por parte de Jim, é descrito de forma contida, pois, qualquer um que é passado para trás, jamais hesitaria em tecer centenas e dezenas de comentários maldosos em relação à pessoa que o passou a perna. Além disso, o não cumprimento burocrático não foi único sofrimento causado por Mary, que, para um desavisado, pode acabar por se tornar uma vilã na trama. Quero dizer que, pouco antes do fim, Jim Hutton sugere uma cena dolorosa: Mary solicita a ele e a todos os outros que viviam no Garden Lodge, que pegassem todos os presentes dados em festas de aniversário, natais passados e levassem consigo, no intuito de liberar espaço na casa.
Nada mais doloroso.
A repulsa foi óbvia. Porém, não houve muita insistência por parte de Mary. E, aliás, a “amizade forçada”, recebeu um forte corte de relações, assim que tudo se dissipou. De fato, o final pode não ser tão agradável para todos os leitores.
Com relação às alegrias do livro, para um bom conhecedor do Queen e do Freddie Mercury, certas passagens, como, os shows do Rock in Rio, Live Aid e Wembley, são mostrados por alguém que teve pouco e muito contato (assim mesmo, de forma crescente!) com os bastidores dos eventos. Isso só faz aumentar o gosto por saber mais sobre a banda, que é mera coadjuvante nas citações de Jim, mas é bem apresentada.
Em resumo, o livro de Jim Hutton consegue chegar a dois extremos. Ele pode conter muita coisa que poucos sabiam ou sabem, mas também pode só fazer por afirmar aquilo já se tem conhecimento (duvido!).
Aos fãs, divertimento.
Aos iniciantes, muitas descobertas.
Aos demais, um forte abraço.

Odilon Corrêa.

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