O Queen nunca esteve na moda
nem foi uma banda queridinha da crítica --o que não impediu que vendesse mais
de 300 milhões de discos no mundo todo e se tornasse um fenômeno de shows em estádios.
O Queen, aliás, foi o primeiro grupo estrangeiro a, no auge da carreira, se
apresentar no Brasil, num show megaproduzido, em 1981, no Morumbi (São Paulo).
Aos 40 e poucos anos, e coincidindo com os 20 e
poucos anos de morte de Freddie Mercury, completados nesta quinta-feira (24), o
grupo britânico ganha uma biografia, "Queen - História Ilustrada da Maior
Banda de Todos os Tempos", que acompanha sua trajetória desde a
origem universitária até os concertos apoteóticos pelo mundo afora, e tenta
desvendar o que está por trás desse amor incondicional dos fãs e da relação
conflituosa com a crítica.
No caminho, revela o
processo de criação de sucessos como "Bohemian Rhapsody", "We
Are the Champions", "Another One Bites the Dust" e de discos que
marcaram sua carreira, com vislumbres da vida pessoal de seus integrantes.
O título é bem bobo, mas
serve para indicar onde se concentra o foco do livro: as mais de 500 imagens,
entre fotos de arquivo pessoal dos integrantes, fotos de shows, reproduções de
convites, panfletos, capas de disco, ingressos e outras preciosidades gráficas
relacionadas ao Queen, como trechos de uma história em quadrinho da série
"Rock N' Roll Comics", de Todd Loren.
A história do grupo é
contada por meio de depoimentos de integrantes da banda, empresários,
produtores e fãs ilustres, como Slash (Guns N' Roses), Rob Halford (Judas
Priest) e Tommy Lee (Mötley Crue). A discografia completa ganhou resenhas
inéditas de um time de jornalistas de música que atuam em grandes revistas
especializadas e jornais, como "Mojo", "NME", "Q Magazine", "The New York
Times", "Billboard", "Spin" e outras. É pena que o
texto original tenha sido desfigurado por uma tradução descuidada.
O livro não traz nenhuma grande revelação, mas
o conjunto do material é testemunho da inventividade de um grupo único, que, em
seus momentos mais inspirados, conseguiu levar ao grande público uma música ao
mesmo tempo sofisticada e popular. O que não é pouca coisa.
TRECHOS DO LIVRO
Pesquisa: Rodrigo O. dos Anjos
"O Queen é uma banda que as pessoas amam ou odeiam,
sem meio-termo - e tudo bem." (Roger Taylor, sobre seu grupo, em 1978)
"Querido, nós somos a banda mais sacana da
Terra" (Freddie Mercury, à 'Melody Maker', em 1974)
"Às vezes, as pessoas acham que sou um ogro"
(Freddie Mercury, em 1974)
"Ele podia ser muito doce e até modesto… e depois te
arrancaria a cabeça" (Rob Halford sobre Freddie Mercury)
"A América do Sul foi uma aventura. As pessoas me
diziam que não podíamos tocar em lugares grandes, que íamos ter prejuízo, que a
gente não sairia de lá vivo" (Brian May sobre a turnê pelo Brasil e
Argentina, em 1981)
"O produtor Mack arrastou-os para novas técnicas
radicais (…) em 'Another One Bites the Dust', influenciada pela banda Chic, com
base em loop de bateria, um piano primoroso, címbalos e palmas. (…) Roger
Taylor odiou a canção. Disse: 'Isso não é rock and roll; que porra é essa que
estamos fazendo?"
"Os exageros vazavam da música para a nossa vida e
tornavam-se uma necessidade. Estávamos sempre tentando chegar a um lugar que
jamais fora alcançado antes, e os excessos faziam parte disso" (Brian May
sobre o estilo de vida da banda, no final dos anos 70)
"Certa tarde, quando o Queen estava trabalhando na
sala de controle, Sid Vicious entrou tropeçando pela porta e disse a Freddie:
'Você já conseguiu levar o balé para as massas?'. Freddie levantou-se de forma
casual, andou até Sid e fez um gracejo: 'você não é o Stanley Ferocious?'. Daí,
pegou-o pelo colarinho e jogou-o para fora da sala" (Sobre o encontro
entre o vocalista do Queen e o baixista dos Sex Pistols, enquanto as duas
bandas dividiam um estúdio, em Londres)
"Queen - História Ilustrada da Maior Banda de Todos
os Tempos"
Autor: Phil Sutcliffe
Editora: Globo
Páginas: 288
valor por volta de R$75,00
A banda do início aos dias
atuais
O Queen foi uma banda
concebida e gestada no ambiente universitário londrino. O guitarrista Brian May
era físico e fazia mestrado em astronomia. Roger Taylor, estudante de
odontologia, chegou a ele por meio de um anúncio deixado no quadro de avisos na
faculdade, que solicitava um baterista para formar uma banda.
Tempos depois, Freddie Mercury, aluno do curso
de história da arte, apareceu, apresentado por um amigo comum. O baixista John
Deacon, estudante de eletrônica, foi o último a se juntar ao grupo, a convite
de May.
Por conta de seu ecletismo, a crítica nunca os
levou muito a sério e nem os tratou com a mesma deferência concedida a outros
artistas contemporâneos seus, como Led Zeppelin, David Bowie e Alice Cooper
--embora todos esses tivessem admiração pelo Queen.
No começo, a banda fazia uma música que não
era nem heavy metal, nem progressiva, nem glam, embora flertasse com elementos
desses estilos. Depois veio o punk, e o Queen era demasiadamente
"musical" para aderir ao movimento dos três acordes.
Nos anos 80, o grupo se aventurou pela
discoteca e a dance music, e foi criticado por abandonar as raízes roqueiras.
Além disso, Freddie Mercury era considerado pela imprensa musical inglesa como
um cabeça oca arrogante e megalomaníaco. Enquanto a moda era a
"anarquia" punk, ele declarava que sua "missão" era
"levar o balé às massas".
Freddie foi o responsável também por
transmitir à banda a sua obsessão com o universo gay sadomasoquista que ele
tinha acabado de descobrir, no início dos anos 80, e imprimir o visual
"couro e bigode" que ficou para sempre associado a ele e ao Queen.
"Nunca fomos considerados um grupo da moda", declarou May
recentemente a um programa da TV inglesa BBC, o que, para ele, foi uma vantagem
para o grupo, que se sentiu mais "livre".
E o público adorava aquela variedade de
estilos e visuais embalada com tamanha dramaticidade e um senso de humor
peculiar. Os arroubos operísticos de "Bohemian Rhapsody", a
interpretação à la Presley de "Crazy Little Think Called Love", o
romantismo delicado de "Love of my Life" ou o escracho de "Fat
Bottomed Girls".
Os fãs amavam sobretudo a persona espetaculosa
e magnética de Mercury, com seus saltos acrobáticos, gestos exagerados e
potência vocal a toda prova. Quando ele morreu, em 1991, de complicações de
saúde decorrentes da Aids, há anos o Queen já não fazia shows --nem emplacava
um grande sucesso nas paradas.
Mesmo assim, 72 mil pessoas
lotaram o show em sua homenagem, feito pelos remanescentes da banda com
participações especiais (revezaram-se nos vocais Bowie, Liza Minnelli, Robert
Plant e George Michael, entre outras grandes estrelas da época). Televisionado
para 76 países, o show teve uma audiência estimada de cerca de um bilhão de
pessoas. Números que combinam com a grandiosidade que marcou a trajetória do
Queen.
Após a morte de Mercury, o baixista John
Deacon deixou o grupo e a carreira musical --nem sequer compareceu à introdução
da banda à Galeria da Fama do Rock em 2001. May e Taylor continuam a gravar e
fazer shows, com a participação de Paul Rodgers nos vocais, e, mais
recentemente, com o ex-"American Idol" Adam Lambert.
E para 2012, o grupo promete o lançamento de
faixas inéditas: duetos nunca antes lançados de Freddie Mercury com Michael
Jackson, gravados no início dos anos 80. Como diz um dos maiores sucessos do
Queen, "o show tem que continuar".
Uma curiosidade:
QUESTIONÁRIO PROUST:
Durante uma turnê pelo Japão, em 1975, os quatro
integrantes da banda responderam a um questionário para a revista "Ongaku
Senka". Segue abaixo a transcrição de uma das respostas mais
significativas sobre a personalidade de cada um deles, já nos primeiros anos de
carreira.
Pergunta – Qual o seu sonho?
John Deacon – Molhado.
Brian May – Que todas as pessoas se entendam.
Roger Taylor – Ser rico, famoso, feliz, popular e tudo o
mais que todo mundo quer ser, mas não admite.
Freddie Mercury –
Continuar a ser a criatura divina e exuberante que sou
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